Bruna (31) sempre considerou que aproveitava a vida. A agenda flexível proporcionada pela profissão de psicóloga garantia um equilíbrio que parece impossível para muitos: estar à disposição dos pacientes sem perder preciosos momentos de aventura. Como o envolvido em uma viagem para Noronha para mergulhar com tubarões.

“Sempre tive o sonho de mergulhar com tubarões. Só que eu não fazia nada a respeito. Em agosto de 2018 fui para Fernando de Noronha e mergulhei lá. Senti uma paz incrível. Foi aí minha primeira virada de conexão com a natureza e de contato com a meditação. O fundo do mar é um outro mundo.”

O mergulho foi o link de todas as leituras que Bruna vinha fazendo naquele momento sobre mindfulness, meditação e autocuidado. E desse encontro, naquele mesmo ano, Bruna resolveu tirar férias mais longas em dezembro, algo que não fazia há bastante tempo em oito anos de profissão.

Foi durante essas férias muito bem aproveitadas que sua história deu um giro inesperado.

“Fui arrumar meu biquíni e senti uma coisa dura na mama esquerda. Pensei: ‘Estranho’. Fiz exames em setembro e estava tudo bem.”

Bruna decidiu que não queria cair na noia. Mesmo assim, ela foi cautelosa. Mandou uma mensagem para sua médica, pedindo uma consulta após o recesso de fim de ano. Não demorou para a médica retornar.

2019: A descoberta e o redirecionamento do foco

No dia 2 de janeiro já seria a consulta, da qual ela seguiu para uma série de exames para descartar o pior cenário, que seria um câncer de mama.

“Quando as coisas começaram a se encaminhar muito rápido, eu senti que era [câncer de mama]. E era.”

Bruna tinha dois nódulos na mama esquerda e um na axila. Jovem, sem histórico familiar e sem nenhum câncer prévio.

Para Bruna, assimilar a notícia foi difícil. Mesmo assim, ela decidiu que ficaria em paz. “As leituras, o mergulho, as férias e tudo que aconteceu antes desse diagnóstico foi uma espécie de preparação”, considerou.

No dia 29 de janeiro de 2019 ela e sua família já estavam em São Paulo para iniciar o tratamento. Entre quimioterapia, cirurgia e radioterapia passou-se um ano. De volta a Floripa, o desafio foi se reconectar com a antiga rotina. Ela precisava de mais um tempo.

2020: “Tenho que cuidar com o que eu peço para o universo, porque acontece”

A pandemia veio e, como forma de buscar o seu espaço, Bruna acolheu a própria companhia. Isso se refletiu em um novo olhar sobre a cidade-natal, Florianópolis:

“Sempre curti ver lua, sol, praia, mas nunca tive essa conexão tão forte. Era mais de estar longe, contemplar e não experienciar. Gostava do conforto.”

Depois de ficar um ano em São Paulo, a ilha tinha feito falta. Os parques da capital paulista estavam longe de ser uma experiência de paz e imersão na natureza. Trânsito e barulho traziam o caos.

“Comecei a fazer trilhas. Em vez de ficar na varanda, comecei a ir para praia. Fui descobrindo lugares. Comecei a ir para a natureza em vez de ficar no conforto observando ela. Fui sentindo uma conexão muito forte, o quanto isso me nutria e me deixava mais feliz, mais leve, mais viva.”

Bruna descobriu que solitude não é solidão. Aprendeu a amar a sua própria companhia, algo que antes não dava tanto valor. A experiência da solitude ganhou a companhia especial da Cenoura, Golden que Bruna ganhou dos pais para simbolizar o fim do tratamento.

“Acampei pela primeira vez em julho. Nunca achei que a Bruna patricinha da balada ia gostar de ficar no meio do mato, passar perrengue e frio. Mas descobri que tinha esse espírito aventureiro. Na verdade era uma parte que morava em mim que eu não conhecia porque nunca tinha sido estimulada.”

2021: Conectando tudo o que me faz bem

Bruna se equipou, viajou e acampou como nunca. Conheceu muitos lugares da serra catarinense, muitas pessoas, assim como a si mesma. Dessas viagens, vieram descobertas, como a de que tem o chamado para ajudar pessoas a se cuidarem e a transformarem suas vidas.

Disso nasceram projetos como o Viagens de Bem, que criou com o embaixador da Galapagos Michel. A ideia foi fazer 12 episódios em 12 destinos diferentes para ajudar as pessoas, principalmente aquelas que não podem estar nesses lugares, a se reconectarem com a natureza e autoconhecimento.

Bruna também está em transição na sua vida profissional. Sentiu que a psicologia em si não estava mais sendo suficiente para a sua prática. Passou a ser mais a Bruna do que a psicóloga. Aprendeu reiki, a usar florais, óleos e cristais, começou uma formação em astrologia, além de usar música e meditação, em seus atendimentos.

“Quanto mais eu sou eu mesma, quanto mais eu escuto esse chamado, mais eu ajudo as pessoas e transformo a minha minha vida para melhor. Continuo sendo psicóloga, mas meu objetivo é me tornar terapeuta holística, agregando todos esses conhecimentos juntos.”

A mudança chegou na sua consciência em relação ao consumo e ao meio ambiente, “do que estamos fazendo com o mundo”. Desde a água do chuveiro e da luz de casa até o que entra no seu armário, Bruna busca o essencial. Para ela, quanto mais na natureza você está, mais cuidado você tem porque você não quer perder aquilo.

“As roupas de esporte nos levam muito a essa experiência [do minimalismo]. Quando você está em um acampamento, você não vai levar uma mala cheia de roupa porque pesa.”

2022: Os próximos passos

O objetivo de Bruna é ajudar e inspirar. Várias pessoas ao seu redor já disseram o quanto mudaram suas vidas ouvindo-a. Isso dá mais motivação para continuar a desbravar o mundo e a voltar cheia de histórias para contar.

Mas ela mantém os pés no chão. Para Bruna, contar a sua história é plantar uma sementinha. Ela não sabe quando nem se essa semente vai florescer. O motivo é simples:

toda mudança vem de um sentimento de necessidade, de quando a gente sente que precisa. Como ela mesma vivenciou.

“Cada um tem o seu despertar. Tem pessoas que levam mais tempo, tem quem leve menos. Não é uma linha de comparação de mais ou menos evolução. Cada um tem o seu processo. Quando você passa por uma experiência que chacoalha, pode ou não despertar. É uma escolha. O que fez eu ter essa vontade de viver e querer aproveitar ao máximo todos os dias foi a minha experiência com o câncer. Ela me transformou. Passei a valorizar as coisas de uma forma muito diferente e a estar muito mais presente em tudo que faço. Ser grata por acordar com saúde e me sentir bem, e ter consciência do privilégio que é estar viva. Me dei conta de quantas coisas eu não fazia, mesmo com toda a saúde que tinha.”

É esse despertar que abre portas para novas experiências. E o poder de cada experiência está nas sensações que elas proporcionam.

“Quando você está em contato com a natureza, não importa como seja, você se sente bem. E essa sensação mostra o impacto que ela tem tanto no corpo quanto na mente. Muda a vida e passa a não fazer mais sentido viver sem. Você começa a ver a quantidade de possibilidades de coisas para fazer e o quanto é transformador vivenciar todas essas experiências. E tudo está à sua disposição e gratuitamente. Por isso, temos que valorizar e cuidar, porque a natureza é finita.”

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