Pinguins, gaivotas, baleias, leões e lobos marinhos, golfinhos… é comum ver esses animais chegarem nas praias. Em muitos casos, debilitados por causas humanas como ingestão de lixo e interação com equipamentos de pesca, logo precisando de reabilitação. Esse trabalho de reabilitação, assim como a soltura após o tratamento, é feito na Ilha de Santa Catarina pela ONG R3 Animal, com sede no Parque do Rio Vermelho.

Fundada em 2000, em uma parceria de voluntários com a Polícia Ambiental Militar, a R3 atua no monitoramento, resgate, reabilitação e reintrodução ambiental de animais selvagens.

Presidida pela veterinária Cristiane Kolesnikovas, a ONG tem uma equipe de 43 profissionais entre veterinários, biólogos, tratadores e administração, além de 4 a 8 voluntários por mês.

Por ano, esse time devolve para a natureza de 200 a 300 animais marinhos resgatados, o que coloca a taxa de sucesso de reabilitação da ONG em 65%.

Mas esse trabalho começa antes, no monitoramento de praias. A ONG atua no Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), exigência do Ibama no licenciamento ambiental federal para a exploração de gás e petróleo na Bacia de Santos.

Todos os dias, três equipes da R3 Animal percorrem a faixa leste da Ilha de Santa Catarina em busca de animais marinhos mortos ou debilitados, enquanto as outras da ilha são atendidas via acionamento através do telefone 0800 642 3341. A ONG também recebe animais marinhos resgatados ao longo do litoral catarinense e estabilizados pelas outras instituições executoras do PMP-BS no estado: a Udesc/Laguna, o Instituto Australis, a Univali e a Univille.

Quando as equipes encontram os animais mortos, eles são coletados para passarem por necropsia. O objetivo é identificar a possível causa da morte. “É importante a gente necropsiar. Já descrevemos dois vírus novos em leão marinho”, conta Cristiane.

Já os animais encontrados vivos vão para a reabilitação e posterior soltura. Ao chegarem ao Centro de Pesquisa, Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos (CePRAM/R3 Animal), os animais passam por avaliação, exames diagnósticos e recebem o tratamento adequado.

“Temos uma estrutura de hospital. São 12 piscinas, sendo uma para golfinhos de até três metros e uma para lobos e leões marinhos de até 300 kg. Temos aqui na R3 raio-x, endoscópio, ultrassom. Temos laboratório para fazer exames de sangue. Os animais passam em média de um a dois meses conosco”, releva a presidente da ONG.

Tanto tempo de convivência durante o tratamento exige cuidados. A equipe segue um protocolo para os animais não imprintarem, ou seja, não se acostumarem com os humanos. Pelo mesmo motivo, as visitas ao CePRAM/R3 Animal só são liberadas para estudo. O objetivo é que todos os animais resgatados retornem para a natureza.

A soltura é o grande momento. E envolve todo um preparo. Quando estão prontos para voltarem para a natureza, os animais recebem uma marcação. Ela ajuda a saber se houve realmente sucesso no processo. A soltura também depende da resposta dos animais aos testes da equipe. Eles precisam demonstrar o comportamento esperado para a espécie.

“Nosso sucesso da soltura é ver um pinguim que nós tratamos ser encontrado lá na Patagônia. Então a gente tem certeza de que a soltura deu certo”, finaliza Cristiane.

A evolução da R3 ao longo do tempo: unindo forças para crescer

Se hoje Cristiane e sua equipe trabalham com a certeza de contar com os recursos para fazer esse trabalho com todos os animais marinhos que recebem, segundo a presidente da R3, a razão está nas várias parcerias que fizeram desde que a ONG foi fundada e no próprio projeto.

“Antigamente a gente precisava de centavos. Hoje a gente está bem, com todo o equipamento e estrutura [necessários]. Se o veterinário precisa de um medicamento, nós vamos lá comprar. Antes a gente não podia, se fosse muito caro. Hoje, o que precisamos nós adquirimos. Isso é muito bom. Graças aos projetos. Sem isso, a gente não teria essa capacidade de melhorar as condições para os animais. Saímos do nada para uma estrutura fantástica”, comemora Cristiane.

A presidente da R3 se refere à longa evolução da ONG, desde sua fundação, em 2000. A iniciativa surgiu com a reunião de biólogos e veterinários voluntários organizada dentro da Polícia Militar Ambiental, em especial pelo subtenente Marcelo Verondino Duarte.

A necessidade, na época, era aumentar a rede de reabilitação de animais silvestres e marinhos resgatados. Neste trabalho, a ONG chegou a atender de 2.500 a 3.000 animais por ano, principalmente passeriformes. Ainda assim, todos os recursos para materiais vinham de doações e muitas vezes do bolso dos próprios voluntários.

“Nos amigos secretos os presentes eram para os animais”, lembra Cristiane.

Foi em 2010 a primeira parceria, com o IBAMA. A instituição passou a fazer parte da administração do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestes), na qual os membros da ONG atuavam. Com isso, a instituição passou a fornecer parte dos recursos para manutenção.

Em 2014, o IMA substituiu o IBAMA na administração do CETAS. A instituição contratou a R3 para gerir tanto o centro de triagem quanto a Trilha do Rio Vermelho. Essas iniciativas garantiram que a R3 tivesse pela primeira vez uma equipe contratada para atuar na trilha, assim como tratadores e veterinários para a ONG.

“Depois de 14 anos a gente conseguiu ter uma equipe mínima contratada”, recorda Cristiane. 

No ano seguinte, em 2015, a ONG foi convidada para executar o Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) na Ilha de Santa Catarina. O PMP-BS abrange a faixa litorânea desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ), e é dividido em 15 trechos. O objetivo do PMP-BS é avaliar possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos encontrados mortos.

Com mais recursos, a infraestrutura e o trabalho da ONG começaram a ganhar a forma que conhecemos hoje. Em 2018, iniciaram as atividades do Centro de Pesquisa, Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos (CePRAM/R3 Animal) e, em 2019, a R3 encerrou o trabalho com animais terrestres.

O trabalho continua: Espaço Mar Aberto será o centro de educação ambiental da R3

Como o CePRAM é um hospital, e não pode receber visitação, a equipe da R3 sempre vai às escolas, praias e imprensa para trabalhar a conscientização ambiental, por meio de projetos como o Cultura Oceânica e o R3 na Praia, em parceria com a Prefeitura de Florianópolis.

Para ampliar o trabalho, a ONG vai criar um espaço para receber visitações e proporcionar mais projetos para a comunidade.

“A gente vê, com o trabalho na trilha do Rio Vermelho e no monitoramento, que falta muito [em educação ambiental]. Precisamos fortalecer a educação ambiental e conscientizar a população para que a gente não tenha tantos problemas com os animais. A mortalidade maior é por interação antrópica: ingestão de lixo, captura incidental em redes de pesca, poluição da água… Então a gente acredita que, trabalhando com a educação ambiental, com as crianças nas escolas, nós conseguimos um resultado melhor do que no final da linha, onde estamos. Temos que ir lá no começo. Esse é o principal foco da parceria com a Galapagos”, comenta Cristiane.

Em 2022, o objetivo da R3 é construir o Espaço Mar Aberto, parte de seu Núcleo de Educação Ambiental, criado em 2021. A iniciativa vai ser o coração de todo o trabalho de conscientização feito pela ONG.

A Galapagos é parceira da R3 nessa iniciativa. Por meio da venda das pulseiras Wishes, direcionamos recursos para o trabalho da R3 Animal e de outras ONGs.

 

FOTOS: Nilson Coelho/R3 Animal

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